O programa Fantástico do último domingo (18), mostrou cenas de embrulhar o estômago, que aconteceram em diversas unidades de saúde do País.
Pacientes recebem medicações trocadas, crianças sofrem lesões graves, e mortes causadas por erros banais estão cada vez mais comuns, por conta da desatenção e má formação dos profissionais de enfermagem.
A reportagem mostra que regras básicas da enfermagem são quebradas a todo instante, como fazer um procedimento sem usar luvas e não lavar as mãos para atender um paciente.
A matéria foca numa questão preocupante: os cursos de enfermagem de má qualidade crescem em todo o País, sem oferecer formação adequada, e ameaçam vida de pacientes.
De 2009 para 2010, o número de denúncias contra profissionais de enfermagem praticamente dobrou. Numa unidade de saúde visitada pela reportagem do Fantástico, na medicação utilizada não havia rótulos, nem identificação do paciente, dosagem, nem o horário em que foi usada.
Existem hoje no País cerca de 1,5 milhão de enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem. A cada ano, surgem pelo menos cem mil novos profissionais. Felizmente, a maioria cuida bem dos pacientes. Mas nunca houve tantos erros cometidos pela categoria.
“Nós temos observado, principalmente nos últimos cinco anos, um aumento muito grande das denúncias, um incremento da ordem de 20% a 25% ao ano. Erros simples que poderiam ser perfeitamente evitados se esse atendimento tivesse sido realizado com maior atenção”, aponta Manoel Carlos Neri, presidente do Conselho Federal de Enfermagem.
Certos profissionais não estão cumprindo nem o básico da profissão. “Me parece que esse é um problema que tem diversos fatores. Um dos fatores mais importantes que eu coloco é a baixa qualidade do ensino”, opina o presidente do Conselho Federal de Enfermagem.
Só em 2010, o Conselho Regional de Enfermagem em São Paulo recebeu 250 denúncias de erros causados por profissionais da área. Vinte deles resultaram em morte ou lesão permanente para os pacientes.
Nunca foi tão fácil estudar enfermagem no Brasil. O curso para técnico, que exige apenas o Ensino Médio, e dura cerca de dois anos, é, disparado, o mais procurado do País. São mais de 1,7 mil escolas cadastradas.
A reportagem mostra ainda que os erros não existem só entre auxiliares e técnicos. Ocorrem entre os profissionais de nível superior. Os números mostram que as faculdades de enfermagem também estão em alta.
“A procura no passado era muito por dedicação, por gostar. Hoje a procura é muito mais por mercado de trabalho aberto”, comenta Pedro de Jesus Silva, presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro.
Em dez anos, o número de cursos oferecidos no Brasil ficou quase cinco vezes maior.
“Já chegamos a ter conhecimento aqui de faculdades que o aluno, durante toda a sua formação, fez os estágios apenas dentro de laboratórios e nunca foi a uma unidade de saúde para lidar diretamente com o paciente”, revela Manoel Carlos Neri, presidente do Conselho Federal de Enfermagem.
A cada três anos, o Ministério da Educação realiza um exame para avaliar a qualidade do ensino nas faculdades de enfermagem. Entre 2004 e 2007, a porcentagem de cursos com avaliação abaixo da média subiu de 6% para 47%.
“O ministério vai tomar ações incisivas e no limite, fechar cursos, fechar vagas e até mesmo fechar instituições”, garante o secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior, Luís Fernando Massonetto.
Mas não são apenas cursos ruins que podem provocar erros. Tem também a sobrecarga de trabalho, que pode ocorrer, como mostrou a reportagem, por causa dos baixos salários.
Lizete Lopes é auxiliar de enfermagem há 17 anos. Trabalha três dias da semana em um hospital, três em outro e ainda faz curso de especialização. “É cansativo. Às vezes, chega até ser exaustivo, dependendo do plantão”, diz.
Para evitar erros, Lizete se apega aos chamados “cinco certos” da profissão. O paciente certo, o medicamento certo, a prescrição certa, a hora certa, pela via certa. Assim faz também uma legião de profissionais de enfermagem Brasil afora.
Nos próximos dias, o Conselho Regional de Enfermagem do Rio vai enviar à Vigilância Sanitária, ao Ministério Público Estadual e às secretarias municipais de Saúde um relatório com as irregularidades encontradas nas duas instituições visitadas pela equipe do Fantástico.
“Errar na enfermagem não pode. Você pode causar danos irreparáveis à sociedade e não dá para aceitar”, afirma Pedro de Jesus Silva, presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro.
fonte rede imprensa livre
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